quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

"Naufrágicos Anónimos" - Parte 1

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Começa após os primeiros cursos de mergulho. Nalguns casos mais graves há registos dos primeiros sintomas terem surgido antes e serem até a causa do curso de mergulho.
Alastra como um virus altamente contagioso.
Sabemos que o apanhamos quando perdemos a noção do tempo em pesquisas, primeiro na net, em sites conhecidos, depois em bases de dados espalhadas por todo o mundo onde nos registamos em busca de mais e mais informação, dados que nos alimentam a curiosidade.
Torna-se então evidente que apanhámos uma doença.
Procuramos ajuda nos sitios e junto das pessoas mais insuspeitas : arqueólogos, museólogos e outros doutores especializados, que aconselham e incentivam a continuação das pesquisas, como forma de não contrariar tão deformado discernimento.
Neste momento já temos alguns naufrágios bem conhecidos, estudados e analisados que completamos com fotos e videos tirados dos vários mergulhos que fazemos questão de efectuar.
Reparamos que não estamos sozinhos na doença.
Afinal há muitos mais com sintomas ou com manifestações dos vários estágios da doença e que por acaso até frequentam os mesmos locais de pesquisa e os mesmos Centros de Mergulho.
Somos muitas vezes discriminados, pela família e pela sociedade que não entende a beleza de um casco afundado á anos, corroído pela ferrugem e coberto de organismos que perpetuam a vida nestes locais muitas vezes inóspitos.
Há variantes á doença. Enquanto uns preferem a madeira apodrecida por seculos de imersão em agua salgada, procurando nos restos de metal a sua datação e nome, outros dedicam-se mais a epocas recentes, onde o aço e as caldeiras a vapor dominam.
A evolução é lenta, muitas vezes abandonada e retomada anos mais tarde ao surgir algo que altera o conhecimento momentaneo do naufrágio.
Ganha-se paciência, mesmo porque é pouco provavel que o naufrágio saía do sítio e as informações disponiveis sejam alteradas.
Qualquer mergulhador não fica indiferente aos naufrágios. O seu grau de satisfação ou de prazer nesse mergulho poderá desencadear o inicio da doença.
Encontramo-nos a contemplar o mar e os barcos que ali se encontram, muitas vezes á espera de maré para continuar a sua viagem, seja de passageiros ou de carga, tanto faz…e o unico pensamento que nos ocorre é : "Afunda !!!Afunda mesmo aí…!! Davas um lindo naufrágio".
Com o tempo queremos mais. Mais fundo, mais tempo, mais "dentro" e fazem-se os primeiros cursos de mergulho técnico. Nada há mais técnico no fundo do mar que um navio naufragado, com todo o seu equipamento, maquinaria e tecnologia. Já não são só os doutores a contribuirem para a evolução da doença, temos agora tambem os professores…de mergulho, chamados de instrutores.
Nesta altura verificamos também que os melhores naufrágios encontram-se sempre mais fundo que as certificações. Deveria haver uma lei que proibisse naufrágios abaixo dos 45 metros !!
Os poucos existentes a baixa profundidade servem muitas vezes para que os jovens recém formados experimentem as primeiras visitas, levando á renovação de novos doentes.
É necessário efectuar estudos mais detalhados ás reacções do ferro, bronze ou madeira com a agua salgada... estou convencido que a doença é contraída por essa reacção e disseminada através do mar.