quinta-feira, 18 de junho de 2009

Liveaboard em Portugal !!

Rota dos Naufrágios no Barlavento Algarvio

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Fala-se em Liveaboard e o que nos vêm logo á ideia são as fantásticas experiências em águas quentes, de visibilidades infinitas e climas tórridos…
Talvez porque se trata muitas vezes de uma industria de turismo bem estruturada e montada e porque nós, no nosso território Continental, banhados pelo Atlântico sofremos de graves défices de temperatura e de visibilidades capazes de desmoralizar o mais irredutível mergulhador, naturalmente procuramos essas paragens como locais para usufruir de uns belos e merecidos mergulhos.
Confesso que não sou ( ainda !! ) adepto de procurar alguns desses locais de mergulho massificado, mas reconheço as suas qualidades obvias e o estatuto merecido de "meca do mergulho".

Em Portugal a ideia de realizar Liveaboard nas nossas águas não é novidade. A novidade é ter uma estrutura completa e preparada para oferecer ao mercado esse serviço sempre que seja solicitado e de um forma constante.

Tenho acompanhado com alguma expectativa o desenvolvimento do projecto Subnauta em Portimão.
O primeiro contacto, através das revistas e de "conversas de café", depois através de eventos em que participei e que tinham como parceiro a Subnauta, a expectativa tornou-se numa vontade em conhecer o Centro de Mergulho e os serviços oferecidos.

Surgiu a oportunidade de uma forma surpreendente.
Através de convite da Subnauta, pelo seu admnistrador, Luis Sá Couto, a convidar-me para participar na viagem inaugural do catamarã Xu-Nauta, construído de propósito para a realização de Liveaboards nas aguas do Algarve.
A rota seria a dos naufrágios do Barlavento Algarvio !!

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Ficaram agendados cinco mergulhos. Três para o primeiro dia e dois para o segundo.
A Subnauta disponibilizou um caderno de informações, com todas as questões relacionadas com os dias a bordo e os mergulhos. Da segurança ao plano de emergência a bordo, da descrição dos spots de mergulho ao pormenor dos desenhos e informações relevantes, tudo foi ali disponibilizado para que cada mergulhador tivesse o máximo de informação.

Quanto a equipamento, foi disponibilizado a todos os mergulhadores conjuntos completos, tal como é habitual nas saidas normais do Centro, incluíndo garrafas de 12 lts @ 200 bar com a filosofia ANDI "Safe air", estando disponivel a bordo enchimentos ar, EANx e trimix, dependendo apenas da certificação de cada mergulhador.

Bem vindo a bordo !!

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Fui o ultimo passageiro a chegar. Depois de uma semana de trabalho, 4 horas de viagem num final de dia de trabalho e 300 km de estrada são remédio para qualquer insónia ou dificuldade em dormir.
Á chegada fui muito bem recebido pelo Pedro Caleja e Rui Mariano, que ajudaram a transportar as malas para bordo.
Apresentaram-me o barco e a minha cabine, deixando as restantes explicações para mais tarde após chegada do Luis Sá Couto, acompanhado pelos restantes passageiros e companheiros de viagem.

Estava assim reunida toda a tripulação e passageiros. Era hora de efectuar o primeiro briefing, explicando o funcionamento, regras e o plano da viagem. Tudo muito bem documentado e explicado.

A noite a bordo foi calma e o descanso reconfortante.

Primeiro mergulho : naufrágio do "Wilhelm Krag"

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Saímos da marina de Portimão ainda não eram 7h30 de uma manhã encoberta e algo fria.
O mar na saida do Rio Arade apresentava-se completamente "chão" o que deixava antever uma viagem calma.
O naufrágio do "Wilhem Krag" está a cerca de 12 milhas e 90 minutos de viagem, sendo para mim um local em estreia. Das ultimas vezes que tinha mergulhado no Algarve, este naufrágio tinha ficado de fora das opções.
Recebemos ordens para subir ao deck superior onde o espaço está preparado para os briefings de mergulho.
O João Pedro Freire, ajudado pelo desenho do Sá Pinto explica-nos de forma clara e detalhada todo o plano de mergulho. Onde descemos, por onde nos deslocamos e os procedimentos a ter durante a imersão.
As duplas de mergulho são também definidas : João P. Freire ( guia ) - Miguel Helfrich, Jorge Marques - Fernando Borges, Pedro Araujo - Pedro Tomás
Apenas naquele momento reparo que, dos passageiros-mergulhadores a bordo, sou o mais novo em idade e com a menor experiencia de mergulho…É definitivamente um privilégio estar a bordo !
A shot line é preparada enquanto nos equipamos para mergulhar.
Já equipados, aguardamos autorização de cair na agua, nadar até á boia e, todos juntos iniciar a descida.
A descida é feita rápidamente. Na frente o nosso guia, restantes elementos, lado a lado a seguir o caminho indicado.
Estamos agora a 34 metros, junto aos destroços do velho cargueiro de quase 100 metros, afundado em 24 de Abril de 1917 pelo submarino alemão U-35.
No meio de chapas corroídas e torcidas dirigimo-nos aos restos do que foi outrora as caldeiras do navio. Espreito com atenção para dentro de todos os buracos, á espera de encontrar os habituais grandes safios que normalmente habitam estes destroços.
Em vez disso deparo-me com um cardume de Anthias, que exibem as suas cores e as grandes barbatanas que mais parecem fitas de seda avermelhada. É um cardume consideravel aquele que desfila na nossa frente !!
Subo um pouco para ter uma perspectiva mais abrangente de todo o local e aproveitar a boa visibilidade ( cerca de 8 metros ). A agua no fundo está completamente parada. A sensação de ausência de gravidade é absolutamente incrível !!

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O naufrágio tem um tamanho consideravel para conseguir ser visto apenas num mergulho. Não só o tamanho mas o tempo de fundo não descompressivo mesmo com nitrox passa a correr e tal como iniciámos o mergulho, em conjunto, terminamos e iniciamos a subida lentamente até á superficie.
Estava assim terminado o primeiro e espectacular mergulho no "Wkrag".
Conto voltar em breve ao local...com mais tempo de fundo e equipado com a máquina fotográfica...


Segundo mergulho : naufrágio do "Ocean"

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Após o primeiro mergulho, todos aproveitaram o tempo para descansar, conversar e repor energias com um belo lanche servido a bordo, preparado pelo "Chef" Pedro Caleja.
O tempo entre termos iniciado o primeiro mergulho e o regresso á superficie altera-se significativamente. O céu fecha-se de vez e ameaça chover, levanta-se vento e o mar altera o seu estado.
Dirigimo-nos para o local onde desde 1759 jaz no fundo a cerca de 9 metros de profundidade o navio almirante da Esquadra Francesa da Guerra dos Sete Anos, afundado pelos barcos Ingleses que perseguiram o "Ocean" e o "Redoutable", os unicos barcos a escapar á furia dos canhões Ingleses de uma frota composta por 14 barcos.


O "Ocean" encontra o seu fim em frente á Praia da Luz e o "Redoutable" junto á praia da Salema.
A viagem demora cerca de 1 hora, agora mais agitada e fustigada pelas ondas.
Pouco antes de chegar ao local, preparamo-nos para novo mergulho. Desta vez o briefing é dado pelo Pedro Caleja, que nos explica em detalhe o que podemos ver em cada uma das 8 estações arqueológicas que se encontram no fundo, ligadas por um cabo guia.
Cada estação no fundo, têm uma placa explicativa dos achados arqueológicos que podemos ver nesse local. A Subnauta através de protocolo com a DANS ficou com a responsbilidade de preservação, conservação e manutenção do local.

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Com a participação neste mergulho da Susana Catita, há a necessidade de ajustar as duplas de mergulho. Como pretendo fazer algumas fotos é decidido juntar os dois mergulhadores com equipamento fotográfico a bordo. Passo então a ter como buddy o Miguel Helfrich e o Pedro Araujo a mergulhar com a Susana. Os restantes três elementos formam um grupo, sendo na mesma a tarefa de guia de mergulho atribuida ao João Pedro Freire.
O local perto da costa não ajuda na estabilização do barco. O mar está agora com vaga levantada a vento.




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Depois de equipado só me apetece sair daquele deck rápidamente !
Encontro-me com o restante grupo na boia e iniciamos a descida.
A primeira sensação, mesmo antes de começar a reconhecer os destroços significativos do "Ocean", é a de entrada num aquário com vários cardumes de peixes juvenis a passarem em todas as direcções, a abrigarem-se por entre os restos de ferros, ancoras, canhões de bronze e demais artefactos ali na nossa frente.
A união entre as várias estações por fio facilitam bastante a deslocação entre elas e apesar da visibilidade não ser muito má ( 10 metros ) provavelmente para quem não conhece bem o local acabaria por se perder nas deslocações entre os vários locais.
Fico impressionado pelo tamanho da ancora de miséricordia com 5 metros de comprimento, pelo enorme canhão de ferro que jaz direito no fundo, pelo diametro impressionante do olhal que está em posição vertical e por se reconhecer perfeitamente os pormenores do cadernal que se encontra junto.
Em conjunto com a visita á pouco tempo ao antigo CNANS, onde ainda estão alguns dos canhões em bronze recuperados no final da decada de 80 e cujas bocas se encontram completamente derretidas devido ao calor do intenso incendio que o barco sofreu no final do combate com os navios Ingleses, é o segundo capitulo para conhecer a história deste que certamente seria um imponente e espectacular galeão.
Foi sem dúvida um mergulho bastante interessante.Conseguimos sentir toda a história de uma maneira muito diferente apenas por estarmos perto de algo que permanece no fundo do oceano á 250 anos.


Estava na hora de terminar o segundo e infelizmente ultimo mergulho do dia. Ao chegarmos á superficie não dava para reconhecer o local que tinhamos deixado uma hora antes.
O mar estava completamente agitado, com forte ondulação, alguma chuva e vento completavam o cenário.

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O terceiro mergulho agendado para as Ilhas do Martinhal em Sagres estava definitivamente cancelado.
Restava-nos viajar até Sagres e ancorar o barco na Baleeira para passarmos a noite no Porto de Abrigo.
Nessa noite, depois de um jantar em terra, o corpo cansado e moído pedia por descanso. Faltava mais um dia e dois mergulhos, antes de regressarmos novamente a Portimão.

Terceiro mergulho : o regresso ao "Torvore"


Alvorada ás 7h00 da manhã !! Ao chegar ao deck já o pequeno almoço está impecavelmente preparado para ser servido.
A grande duvida ao acordar era como estaria o estado do mar nessa manhã…
Por incrivel que pareça, o mar está completamente parado. Parece que tanto o vento como a força das ondas foram também descansar depois de uma noite agitada e que, por ser ainda de madrugada (!!) não tinham ainda começado o seu "castigo".
Isto deixava-nos uma possibilidade de viajar as 2,5 milhas em direcção ao local onde no mesmo dia do "Wkrag", o mesmo submarino alemão afundou em locais distintos o "Torvore" e o "Nordsoen".
Tinha visitado o "Torvore" em final de 2007, com um grupo de amigos também num fim de semana incrivel e inesquecivel de "overdoses" de nitrogénio.
A vontade de voltar outra vez tinha ficado definida nesse mesmo mergulho. Da primeira vez tinha ficado fascinado pelo naufrágio, por aquilo que se vê ainda após tantos anos no fundo.
A caldeira lá estava, imponente e salpicada pelas cores vivas das Anthias do cardume residente, a parte ainda em pé da superestrutura coberta pelas redes de pesca abandonadas a fazer lembrar as velas, que desta vez não oscilavam, porque não havia qualquer especie de corrente, os blocos de carvão prensados que faziam parte da carga do barco ainda repousam no porão.
Na popa encontramos dois Mola-mola com ar intrigado por perturbarmos o seu espaço. Ficamos ali por algum tempo a ver o deslizar sem esforço de tão peculiares peixes.
No regresso ao cabo, passamos novamente pelas caldeiras, desta vez pelo lado de bombordo. Está na hora de iniciar a subida para a superficie e dar por terminado o melhor mergulho de 2009.
A visibilidade estava fantástica. Cerca de 15 metros na horizontal, sem suspensão, sem corrente e 14º de temperatura.
O meu buddy informa o João Pedro e iniciamos a subida. Aos 14 metros, cerca de metade da profundidade máxima ainda é perceptivel o naufrágio e o evoluir dos companheiros que ficaram no fundo, com uma nitidez que surpreende.
Subimos para bordo fascinados com o mergulho acabado de realizar !

O ultimo mergulho será também cancelado devido ás condições de mar se alterarem significativamente. Qualquer mergulho junto á costa está fora de questão.
Resta-nos a viagem de regresso a Portimão, onde faremos a ultima refeição a bordo e o balanço da viagem.

Apesar das condições metereologicas não terem sido as ideais obrigando a cancelar dois dos mergulhos planeados, os que foram feitos ficarão na memória, assim como todo o fim de semana.
Quanto ao barco, a sua autonomia e equipamento permite-lhe fazer este tipo de viagens em completa segurança e conforto, mesmo até para spots muito mais longe como por exemplo os picos submersos do Gorringe, Ormonde e Gettysburg
Todo o profissionalismo, experiencia e serviço prestado da equipa Subnauta é do melhor que existe em Portugal.
Depois de no ano passado ter ficado surpreendido com as condições e serviços do Centro de Mergulho, que para o mercado Português era algo que não existia, a disponibilidade deste barco e da possibilidade de efectuar Liveaboard como um serviço regular, vem ainda mais aumentar a fasquia da qualidade dos serviços prestados.
Como é obvio, o alvo não é certamente o mergulhador Português. As condições e spots da costa Algarvia são ideais para promover o turismo de mergulho a paises como a Inglaterra, Alemanha ou paises do Norte da Europa.

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Quanto a mim, pretendo voltar um dia e repetir a experiencia, seja nos mesmos spots ou em outros locais entretanto visitados...ou quem sabe até um pouco mais Sudoeste do Cabo de S. Vicente…!!!
Muita sorte para toda a equipa Subnauta. Votos de sucesso para este projecto muito ambicioso !!!

sexta-feira, 5 de junho de 2009

O mundo é a nossa casa.

Estreou hoje á noite na RTP 2 um excelente documentário sobre o Planeta Terra.

Pela programação anunciada, vão repetir novamente neste Domingo á noite.

Foi dos melhores programas que ultimamente assisti na televisão Portuguesa.
Filmado de forma muito original, com imagens absolutamente arrebatadoras, o documentário foca de forma bastante directa e objectiva os problemas ambientais, suas causas e consequências.

Basicamente o nosso falhanço enquanto humanidade, os modelos das nossas sociedades em que esgotámos todos os recursos disponiveis.

Muito mais do que a "mensagem da desgraça" ultimamente levada á exaustão é a forma como são apresentados os problemas reais a que ninguém pode ficar indiferente.
As imagens espectaculares reforçam e de que maneira o efeito da mensagem.

No final, são também apresentadas algumas das soluções que rapidamente têm de ser postas em prática, se queremos deixar como herança um Planeta melhor do que aquele que nos deixaram e que muito pouco fizemos para o preservar.

Deixa-nos a pensar o que será o futuro...e se realmente enquanto especie merecemos existir...

Obrigatório ver e divulgar !!



O autor do documentário :








Yann Arthus-Bertrand
http://www.yannarthusbertrand.org/index_new.php

Associação sem fins lucrativos criada para a promoção do Desenvolvimento Sustentavel :

http://www.goodplanet.org/