sábado, 3 de abril de 2010

Planeta Aquário


Era uma vez…
Um Planeta perto da Terra, que alguns seres humanos, priveligiados, eram convidados a visitar.
Neste Planeta viviam umas formas de vida muito diferentes dos seres humanos. Nós, seres humanos, apenas podiamos estar durante um tempo limitado neste Planeta, mas tinhamos a capacidade de o destruir rapidamente. Aliás, os ultimos séculos da nossa existência, temos feito um enorme esforço por o destruir por completo.
Neste Planeta, reina a calma, todos os movimentos são feitos de forma lenta e harmoniosa. Não existe ganância e avareza e os seus habitantes sobrevivem de forma equilibrada.


Somos convidados e como tal temos a obrigação de nos portar como tal. O Planeta Aquário merece respeito e temos de nos adaptar á sua realidade.
Entrei…
A porta mágica foram umas simples escadas, gastas pelo tempo e pelo uso.
Entro rapidamente e os restos do meu planeta desvanecem-se rapidamente. Só ouço a minha respiração, pausada.
Na minha frente vejo os primeiros habitantes deste Planeta. Parece que alguns vieram receber-me.


Seguem-me até casa dos irmãos Gobidae.
Nessa casa vivem três "velhos" amgos : "Huguinho", "Zézinho" e "Luisinho". Diferentes nas suas personalidades como todos os irmãos.
"Huguinho" é o mais velho. Responsavel, astuto e inteligente, só permite alguma confiança limitada. As aproximações e o contacto têm de ser muito bem negociadas, mas a sua curiosidade pelo "alien" que lhe visita a casa permite-lhe aprendizagem. Servirá por certo mais tarde, todo este conhecimento adquirido.


"Zézinho" é timido e receoso. Têm sempre medo de tudo, principalmente daquilo que não conhece. Não arrisca mais que 20 cm em redor da sua casa e mesmo quando, por alguma necessidade se aventura, avança desconfiado e regressa rapidamente ao unico local em que se sente seguro.
Por mais tempo e esforço que lhe dedique, tenho a plena consciencia que pouco mais vou obter da sua simpatia.


"Luisinho" é o extrovertido da familia. É impressionante. Quando me aproximo, já ele vêm a caminho para me receber. Por cada fotografia que tiro, recebo uma nova pose para a seguinte.
É impulsivo e a sua curiosidade é mais forte do que qualquer receio. Dá voltas, rodopia, coloca-se a 1 cm da minha objectiva. Pelo á vontade parece que me conhece á anos !!



O tempo de permanência no Planeta Aquário é limitado. Tenho de pensar em despedir-me dos meus amigos e voltar para o meu planeta.
Inicio o regresso, já com saudades dos três irmãos.
No caminho de regresso encontro o casal Sepia em altura de acasalamento. Enquanto a femea permanece inalterada á minha presença, o macho coloca-se entre mim e a sua femea emitindo variações e alterações na sua coloração e textura. A proxima geração de jovens chocos estará assegurada, tal é a dedicação do enorme macho.
Sinto-me ancorado a este mundo, tal como uma velha ancora que aqui ficou após o barco que lhe pertencia ter partido.
A sensação de paz e sossego é tanta neste Planeta que aqui ficará para a eternidade, servindo de refugio e apoio a outros habitantes. Daqui a uns anos lá estará, mas de certo irreconhecivel.


Já no final sou escoltado até á saida por um estranho habitante, mesmo pelos padrões deste Planeta Aquário.
Aparentemente sem cerebro, necessita da luz solar para viver, tal como as plantas no planeta terra. Tem locomoção e alimenta-se de peixes que caça com os seus tentaculos urticantes.
Já vi os efeitos que provocam nos seres humanos, semelhante a queimaduras. Não me aproximo demasiado.
Á minha frente tenho a mesma escada que me permitiu a entrada. Após uma hora e contra a minha vontade, estou de volta ao planeta terra.


Assim que chego a terra, na minha frente um espectaculo tipico deste nosso planeta.
Um unico ser humano conseguiu bloquear tudo e todos com o seu veiculo, recusando-se a retirá-lo ou desviá-lo…não percebo bem o que se passa, nem me interessa, ainda estou noutra "onda".
Ao fim de uma discussão, envolvem-se alguns seres humanos em confrontos fisicos com o referido "prevaricador"…

Se ao menos tivesse mais ar para voltar a visitar os amigos que tinha deixado...

Mergulhos em água doce - Mina da Orada















Uma das alternativas para quem "sofre" com falta de azoto no sangue e necessita do prazer que qualquer imersão oferece mesmo quando o mar não ajuda, é realizar imersões em agua doce, aproveitando barragens, lagos, represas naturais ou criadas artificialmente e que no final do Inverno, principalmente dos anos mais chuvosos, estão quase sempre na sua máxima cota, permitindo mergulhos para todas as certificações.
Este tipo de imersões são caracterizadas por factores importantes e que devem ser tidos em conta, sendo a mais importante e comum a qualquer outra imersão a Segurança.
Para se planear com segurança redobrada uma imersão em agua doce, é extremamente importante conhecer ou termos recolhido o máximo de informações possiveis sobre o local.
Um planeamento e preparação atempada da imersão, um breefing com o máximo de informação, profundidades e eventuais riscos ajudam sempre nessa preparação. É também fundamental que todos os mergulhadores tenham consciencia dos riscos e que não haja a menor duvida em relação á imersão que vão efectuar.
Para além desta preparação mais técnica, é também essencial que os mergulhadores se sintam á vontade no ambiente que vão encontrar.
Normalmente são locais em que a temperatura e a visibilidade são muito inferiores ás encontradas no mar. Para quem não esteja habituado poderá ser mais um factor de risco acrescido.
A fauna e flora destes locais é muito especifica, pouco abundante e caracteristica, não deixando muitas vezes de surpreender, suscitando maior curiosidade e admiração.
Em Portugal, com quase 900 km de costa Atlantica, onde há locais que permitem efectuar mergulhos todo o ano, mesmo no Inverno mais rigoroso, os mergulhos em aguas interiores são ainda pouco explorados e conhecidos.
Essa tendencia tem sido alterada com o surgimento de Centros de Mergulho que operam em barragens, oferecendo já uma grande variedade de spots interessantes.
Depois há o resto…
Somos um País abençoado, por enquanto segundo alguns especialistas, em locais com aguas interiores. Locais esses situados de Norte a Sul, do litoral ao interior mais profundo, onde muitos mergulhadores aproveitam e vão realizando os seus mergulhos, dando a conhecer esses locais.















Quando me convidaram para participar num mergulho em pleno interior Alentejano, aceitei de imediato ! Não por saber que o mergulho poderia ser surpreendente em algum aspecto, mas sim por ser num local diferente, na companhia de amigos que não vejo todos os dias e porque estaria, na minha opinião, na melhor Região gastronómica e vinícola do País...
De garantia só tinha a boa disposição e amizade…nos dias de hoje, era mais que suficiente para aceitar o convite. Quanto ao mergulho viria por acréscimo.
A viagem é longa. Três horas separam Lisboa da Vidigueira, contando já com as necessárias paragens. Os kilometros de auto-estrada hoje em dia fazem-se bem…e pagam-se ainda melhor !
Horários combinados em noite de mudança de hora obrigaram a utilização de vários despertadores de backup, já que a alvorada teria de ser obrigatoriamente cedo. Fazer a viagem, o mergulho combinado antes de almoço deixando o resto da tarde para o convívio, regresso no final do dia aproveitando as mais horas uteis de sol.















Encontrámo-nos com o pessoal que subia de Beja, á saida da Vidigueira e dirigimo-nos ao estilo de "casamento" até Orada, onde está localizada a antiga mina já desactivada.
Aí, já alguns dos amigos que tinham saido do Algarve esperavam a nossa chegada, em conjunto com um grupo de Cave Divers de Huelva. O grupo estava reunido !
Boa disposição, dia de sol, a primeira paragem no café-restaurante serviu para um primeiro briefing, improvisado entre um café e dois dedos de conversa com a equipa Espanhola. Dos presentes, eram quem melhor conhecia o local, principalmente a zona das grutas, antigas galerias da mina.

A Mina da Orada está desactivada desde 1971, altura em que parou a extração de minério de ferro.
A industria extratora sempre provocou grandes impactos na paisagem. No caso da Orada, a cratera deixada tem cerca de 80 metros de altura, da parte superior do monte, sendo que cerca de 30 metros encontram-se actualmente submersos, devido a infiltração por lençois freáticos e agua das chuvas. O lago assim formado tem cerca de 100 metros de comprido por cerca de 50 metros na sua maxima largura.
A sua forma lembra um oito, dividindo em dois "poços". Um menos profundo e sem paredes em redor, o outro mais profundo ( cerca dos 30 metros actualmente ) e com uma parede onde ainda hoje se encontram alguns tuneis das antigas galerias.
A ideia deste mergulho era ter uma visão geral da area submersa. Do local onde deixámos os carros até á entrada na agua temos de descer cerca de 40 metros de uma rampa que só permite o acesso a pé.
















Chegados junto ao lago, há pelo menos 3 locais que permitem o acesso á agua. Logo que se entra na agua, 1 metro á frente e temos já uma profundidade consideravel.
A entrada completamente equipados é assim fundamental.
Na zona mais baixa, até cerca de 3 metros de profundidade e escondidos nos juncos, podem ser vistas algumas Carpas juvenis que aproveitam a vegetação para se camuflarem e passarem despercebidas.














Alguns Achegãs podem ser vistos também, mas estes, ao minimo sinal de perigo desaparecem imediatamente a grande velocidade.
Chegados ao poço mais fundo, muda a paisagem. Escarpas de rocha a pique até atingirem o fundo, troncos velhos apodrecidos e lodo que cobre tudo com uma camada escura por baixo, devido ao pó da antiga extração e amarelo por cima dos depositos de sedimentos após terem ficado submersos.
A temperatura ronda os 14º C aos 13 metros e a visibilidade varia entre os 6 e os 0 metros, caso não se tenha muito cuidado !!











As antigas galerias surgem assim quando atingimos a escarpa maior. São buracos enormes e completamente escuros, onde as lanternas têm muita dificuldade em fazer penetrar a luz.
Seguem-se continuamente e em sequencia, por cima de nós, por baixo, á medida que avançamos. Buracos negros onde em alguns casos cabem dois ou três camiões lado a lado.
Somos forçados muitas vezes a seguir o contorno abobadado da entrada, já que a visibilidade não permite distinguir o outro extremo da galeria.
Algumas dessas antigas galerias têm escombros na sua entrada, advinhando algumas derrocadas. Não é de todo aconselhavel a entrada em qualquer das grutas, sem formação, preparação adequada e equipamento especifico de mergulho em gruta !!!
Das conversas com os Cave Divers que mergulharam conosco, algumas das grutas permitem mais do que 20 metros de penetração, acabando sem qualquer continuidade. Algumas têm comunicação com outras galerias, continuando a ser exploradas.















Ao fim de 1 hora estavamos no extremo oposto dando por terminado o mergulho.
Era agora altura de sairmos da agua, arrumar todo o material e dirigirmo-nos para o restaurante, onde nos esperava uma bela refeição já merecida.
Será sempre um spot de mergulho a considerar, sempre que, á semelhança deste Inverno, as condições de mar permaneçam más durante muito tempo.
Toda a area submersa permite muitas opções de mergulho e de exploração.
Muito ficou ainda por ver.