segunda-feira, 2 de março de 2009


Foram relembrados este fim de semana em Sesimbra os 20 anos do naufrágio do "River Gurara" no Cabo Espichel.
As iniciativas contaram com uma exposição, visionamento de documentários e uma palestra no Sabado á noite sobre o que se passou naquela fatidica noite de 26 de Fevereiro de 1989.
Como tributo ás vitimas daquela noite, foi colocado no Sabado de manhã uma placa evocativa, no destroço na zona da popa junto á hélice.



No Sabado juntei-me a alguns companheiros de mergulho e participámos nesta excelente inicativa, mergulhando na zona da popa.
Pelos registos do meu logbook deve ter sido o meu vigésimo mergulho no naufrágio.
Não foi o melhor mergulho feito no local. O mar estava calmo e as correntes no fundo só se fizeram sentir na parte final do mergulho, provocado pela mudança de maré.
A visibilidade de 5 metros era prejudicada pela existencia de suspensão, a surgir em maior abundancia nos primeiros metros da coluna de agua.
A vida marinha habitual de polvos, safios, grandes sargos veados, rascassos, brindou os mergulhadores com a sua presença.

Mas estavamos todos ali com outro objectivo…
O lembrar da tragédia, das vitimas e dos herois daquela noite.
Já há muito tempo que conheço a história do River, muito por culpa do mergulho, mas na minha memória não me recordo de nada sobre alguma noticia do dia do seu afundamento.
Ou seja, o conhecimento que tive da história do que sucedeu foi sempre através de documentos mais ou menos impessoais, sem grande carga sentimental.
Talvez por isso resolvi também no final do dia assistir á palestra organizada no Auditório Conde Ferreira e que contou com os principais responsaveis, intervenientes no auxilio das vitimas daquela noite.
O primeiro interveniente foi o Almirante Mota e Silva, comandante da fragata Hermenegildo Capelo, primeiro a chegar ao local e a tentar prestar a melhor ajuda possivel naquelas condições, ainda o barco se encontrava a algumas milhas ao largo.
De seguida o Coronel Artur Cruz, comandante do helicopetero Puma da FAP, que chegou ao Cabo Espichel ao raiar do dia, relembrou a sua experiencia na operação de salvamento.


Foto: Agencia Lusa, 26/02/1989

Mesmo passados vinte anos a emoção e sentimentos das intervenções dos dois principais convidados demonstraram de forma bem visivel que ainda hoje é um assunto a que não ficam indiferentes.
A perda de vidas, a impotencia de prestar auxilio devido ás péssimas condições metereológicas, o grande dilema de arriscar tudo pondo em risco também a própria vida e a vida das suas tripulações fazem de todos os que participaram na operação de salvamento os heróis dessa noite, conseguindo salvar um dos botes com 24 pessoas que se debateram a remos com ventos de 100 Km/h e vagas de 5 metros.
Pela manhã o helicopetero salvou mais um dos poucos sobreviventes que se agarravam á vida nos poucos destroços ainda não afundados do cargueiro. A operação de salvamento do helicopetero só não terminou com a possivel perda de mais uma vida, no caso o mergulhador de resgate, por intervenção do Comandante do "River Gurara", depois do cabo do guincho do helicopetero ter ficado preso nos restos do navio.
Após ter ajudado o mergulhador-recuperador que na tentativa de salvar as vidas dos tripulantes ainda resistentes fracturou uma perna, foi varrido por uma onda e desapareceu nas aguas tempestuosas do Cabo Espichel.
O drama foi também assistido de terra e relatado na primeira pessoa pelo actual comandante dos bombeiros de Sesimbra e pelo Director do jornal SemMais, que na altura se deslocaram ao alto do Cabo Espichel para assistirem também á enorme tragédia que decorria á frente dos seus olhos.


Desenho : João Sá Pinto

É considerada a pior tragédia maritima, ocorrida em aguas Portuguesas nos ultimos vinte anos.
Pessoalmente, a forma de ver o actual destroço do "River Gurara" mudou. Continuarei certamente a mergulhar no local, mas mais importante que encontrar as especies marinhas que actualmente povoam os destroços, será a memória dos acontecimentos que prevalecerá.
Uma especie de santuário onde se presta homenagem aos mortos e principalmente aos heróis que evitaram uma tragédia maior.





"Quem vai para o mar...avia-se em terra !! "

Na parte final das palestras falou-se de segurança e prevenção quando se embarca para o mar.
Os cuidados que devemos ter, o planeamento e as informações necessárias.
Estes temas foram falados pelo Sr. Comandante do Porto de Sesimbra e pelo responsavel da Protecção Civil de Sesimbra.

Falou-se novamente da situação inadmisivel em que se encontram as escadas de acesso ás embarcações no Porto de Pesca de Sesimbra, da não utilização do cais de embarque para os possuidores de MT devido á sua desajustada operacionalidade.
Infelizmente ninguem da APSS esteve presente para se discutir mais sobre o assunto.

Sesimbra tem grandes aspirações com a divulgação e promoção do mergulho. A autarquia fala "de boca cheia" que Sesimbra pretende ser a Capital do Mergulho.
Quando se fala em segurança no mar, que obviamente começa em terra e quando se apresentam as condições actuais das escadas para mergulhadores recreativos e profissionais da nautica e da pesca, sem uma rápida resolução, as justificações e as intenções soam sempre a mediatismo hipócrita.

Neste assunto das escadas todos são culpados. Dos utilizadores ( falando agora só dos mergulhadores, que pagam um mau serviço prestado ), aos operadores de mergulho que não podem utilizar as escadas pondo em risco a integridade fisica dos seus clientes, havendo uma solução não funcional mas que discutida com a APSS certamente se encontrava uma resposta, á propria APSS, autarquia e responsaveis pela garantia das minimas condições de segurança de um equipamento que todos sabem ser de utilização pública.
A solução a meu ver é simples : como mergulhadores, apenas efectuar saidas com Centros de Mergulho que garantam a segurança da integridade fisica dos Clientes. Há Centros em Sesimbra que não utilizam as escadas !! Acredito que rapidamente os outros Centros procuravam alternativas e pressionavam a APSS para resolução rápida do problema.
O silencio e a conivencia dos Centros de Mergulho é também no minimo estranha. No cais de utilização para possuidores de MT está afixada uma lista com todos os autorizados.
Ainda não me dei ao trabalho de consultar a referida lista…mas espero encontrar lá indicados todos os Centros de Mergulho que efectuam saidas em Sesimbra.

No Sabado de manhã, mais um companheiro que pretendia apenas participar e contribuir com a sua presença no evento, sofreu uma violenta queda quando escorregou num dos degraus e a garrafa lhe caiu em cima da mão ferindo-o e levando-o ao Hospital Garcia da Horta.

2 comentários:

Nitrox disse...

Em relação ao River, tive pena de não ter ido lá, mas questões familiares impediram-me. De facto é um local muito especial, que gosto imenso de visitar.

No que diz respeito às escadas, de facto já lá escorreguei, felizmente consegui agarrar-me, já assisti a quedas e já desesperei de ver solução até para a imundice que alguns lá fazem.

Tenho ido mergulhar na Cipreia pois ao menos entramos pela rampa que é muito mais seguro.

Por mim e na qualidade de operador, não levo os meus clientes às escadas.

Fica Bem!

diario de mergulho disse...

E fazes tu muito bem !!
Estive muito tempo sem mergulhar em Sesimbra, por opção.
A questão das escadas, da falta de condições ( hoje essa parte está melhor) e a ideia quanto a mim errada que os Centros fazem em relação a estes assuntos, só deitam tudo a perder num local que pode ser realmente a "capital do mergulho".
Tem todas as condições para isso.
Mas tal como escrevi, todos os intervenientes têm de mudar a atitude.

Um abraço