quarta-feira, 14 de outubro de 2009

"Naufrágicos Anónimos" - Parte 2















Já são muitos, espalhados por esse mundo, os mergulhadores que se dedicam a pesquisar Naufrágios e a registar os resultados das suas pesquisas.
De forma algumas vezes amadora e maior parte das vezes financiada pelo próprio, tenta-se ser o mais rigoroso e fiel aos factos históricos. Os registos fruto desse trabalho são divulgados em blogs, sites, livros ou artigos de revistas e demonstram não só muitas horas de trabalho mas tambem o gosto que se tem em todas as fases que um projecto como esse envolve.
A publicação e escrita do trabalho final é sempre a ponta de um enorme iceberg…
Por todo o mundo existem muitas fontes de consulta desde bibliotecas, colecções particulares até sites com imensa informação.
Era impossivel aqui referir todos, mesmo porque, por mais impressionante que pareça, todos os dias surgem sempre mais, principalmente sites e blogs o que evidencia também o interesse que este assunto desperta.















O que leva um mergulhador a gostar de naufrágios não têm uma resposta unica e haverá sempre mais uma.
Há a parte histórica que todos os barcos encerram, o drama que qualquer afundamento envolve, as vezes sem conta que fomos e somos encantados por histórias de piratas e tesouros e o desejo recondito de "um dia serei eu…" apesar da consciencia, que implícita a um possivel descobrimento, protegido por leis e burocracia cada vez mais necessária, a riqueza material será pouca e a responsabilidade certamente inversa. Não importa ! Ficará para sempre gravado na história o seu nome, ligando-o, a algo maior e que no limite poderá estar ligado á História Universal.
Talvez a razão mais simples seja também uma questão dos nossos tempos. A actividade humana excessiva a todos os niveis reflete-se de forma inrecuperavel nos Oceanos. Locais que á cerca de uma dezena de anos fervilhavam de especies e de vida, hoje dificilmente se avistam grandes exemplares e a variedade de especies não será mais que uma dezena das mais adapatveis ou resistentes á nossa predação descontrolada, uso excessivo de recursos limitados e falta de respeito ambiental.















Para um mergulhador nada é mais desolador do que constatar que muitos dos spots de mergulho são actualmente desertos.
Contrariando esta tendencia, todos os naufrágios servem como recifes artificiais para a fixação e desenvolvimento de muitas e variadas especies, que aqui encontram alimento, abrigo e protecção inclusivé do homem. Não há pescador que não tenha perdido as redes por esses naufrágios espalhados. Aliás, ainda hoje uma forma de possivel detecção de um naufrágio é através dos registos e relatos de pescadores que perderam as suas redes em locais identificados nas sondas como de peixe abundante e que afinal escondem também algo onde as redes ficam presas.
Maior parte dos naufrágios são hoje oásis de vida e locais onde é tão abundante e variada que faz do local onde está o naufrágio um dos melhores sitios para se encontrar vida.
Estranho paradoxo para um local muitas vezes associado a grandes e trágicos acidentes.
Em muitos locais do mundo são afundados deliberadamente, por empresas especialmente dedicadas a esse negócio e depois de devidamente preparados para que tenha o minimo de impacto e influencia no meio marinho onde ficará inserido. Como é obvio, não há soluções 100% fiaveis,mesmo com todo o trabalho de limpeza e remoção de substancias poluentes.
Desde aviões 737, carruagens de comboios, até grandes navios de guerra descomissionados ou obsoletos, sendo um porta-aviões o expoente máximo, ao longo dos anos têm sido varios os exemplos por esse mundo fora.











http://www.digitalwavelabs.com/oriskany/

http://www.cdnn.info/industry/i040124/i040124.html


Há variados estudos interessantes sobre a evolução da fixação de vida nestes locais, assim como estudos relacionados com a procura pelos mergulhadores destes locais e o numero de anos que demora o investimento a ter retorno e gerar lucro para as empresas que resolveram também investir neste tipo de negócio.
Infelizmente ainda nem todos os governos reconhecem esta forma de atrair turismo e capacidade de gerar mais negócio, mas acredito que faltará muito pouco para essa situação se inverter.
Em Portugal existem dois casos de sucesso garantido. O navio IPIMAR em Faro, Algarve e o "Madeirense" em PortoSanto, Madeira, que considero ainda hoje o melhor mergulho efectuado em aguas Portuguesas.

http://www.artificialreef.bc.ca/

As próprias agencias internacionais de formação em mergulho reconhecem, apoiam e incentivam a criação de variados projectos ligados á protecção dos naufrágios criando e divulgando programas especificos a quem pretender "adoptar" um naufrágio, quer a nivel individual como em grupo ou associação.
Em Portugal, com a reorganização dos organismos oficiais ligados á Arqueologia Nautica e Subaquatica, espera-se que um dia seja dado o devido valor e apoio a quem pretende investigar o rico e vasto património subaquático, protegendo-o assim realmente. Muita água há para navegar nesse caminho…
Projectos de afundamentos de navios continuam encravados nas burocracias e organismos. Fala-se á anos da execução desses projectos…
Ou seja, interesse a todos os niveis existe, desde mergulhadores amadores com real interesse no assunto a empresas de mergulho dispostas a investir.
No caso da Arqueologia, com a Subnauta a reactivar a formação em cursos NAS, alguns desses mergulhadores estarão certamente interessados em iniciar ou avançar na sua formação, contribuindo para dinamizar esta area, com a possibilidade de participar em projectos que poderiam ser criados, á semelhança do que acontece em outros Paises.
Apenas falta um real interesse e motivação de quem pode criar as condições necessárias, quer á dinamização, quer desbloqueando ou acelerando todo o processo.










Até lá, de uma forma dispersa e individual vão surgindo iniciativas que serão sempre mal aproveitadas, perdendo-se a oportunidade e desmotivando todos…algumas vezes de forma definitiva.

http://uneepaveraconte.net/english/index.htm

2 comentários:

Nitrox disse...

Estive a ler no jornal "i" um artigo sobre a pretensão da Subnauta em afundar 4 navios de guerra ao largo de Portimão.

http://www.ionline.pt/conteudo/21654-afundar-navios-no-algarve-nao-e-loucura-e-chave-abrir-um-museu/

O site tem um problema qualquer, o melhor é seleccionar tudo e copiar para um editor de texto.

Bons mergulhos

diario de mergulho disse...

O problema é mesmo esse...

Desde que mergulho que ouço falar em que vão ser afundados barcos com a intenção de promover o turismo subaquatico.
Não sei se neste momento o afundar barcos será mais importante para promover o turismo ou as especies marinhas que simplesmente desaparecem das nossas aguas...
Enfim !
O que é certo e mais que provado é que o afundamento ou a criação de recifes artificiais resulta para as duas vertentes.
Estamos em 2009, ouço falar desse processo á mais de cinco anos e ainda vamos esperar mais 9 anos.
É muito tempo !!!
Ao ritmo que estamos a estragar os Oceanos espero que não seja tempo demais.
O "Madeirense" é um caso de sucesso em que todo o processo demorou muito pouco tempo, devido á intervenção directa do Governo Regional.
Para os burocratas mais cépticos têm no "Madeirense" um bom exemplo para justificar o acelerar de todo o processo...
Que não seja pelo mergulho nem pela preservação ambiental. Que seja por aquilo que melhor entendem : euros, lucros, dinheiro !!

Abraços