domingo, 31 de janeiro de 2010

Minde 2010















É impressionante como o tempo passa !! Pelos registo do Logbook a ultima vez que tinha mergulhado em Minde foi no final de 2006.
Passaram-se assim pouco mais de três anos.
As chuvadas intensas deste Inverno garantiam a formação do "Mar de Minde". Era esperar o momento certo, juntar alguns amigos e combinar novo mergulho.
A formação do "Mar de Minde" ocorre devido á saturação do solo, de constituição calcária, pela água das chuvas que engrossam rios subterrâneos vindo a aflorar á superfície no vale de Minde, junto á Serra de Aire e Candeeiros.
É uma extensão de água considerável, mas com prazo limitado. Assim que as chuvas diminuem de intensidade, é uma questão de semanas para desaparecer.















Em comparação com o final de 2006, as águas encontravam-se ao mesmo nível daquele que fomos encontrar desta vez. No entanto, no intervalo de duas semanas, entre a primeira visita e termos efectuado o mergulho, o nível baixou cerca de um metro, resultado da pouca pluviosidade ocorrida neste ultimo mês de Janeiro.















Mais uma vez, o João Toco seria o buddy para este mergulho.
Chegámos cedo á mesma margem que tinhamos usado como ponto de entrada á três anos atrás. Oferece bom local para deixar o carro, boa base para equipar e permitir uma entrada tranquila.
O plano desta vez era seguir pela margem situada á nossa direita, até um local que designámos por "Floresta", devido á enorme densidade de árvores cujos troncos estão submersos, deixando as copas despidas fora de água.
Mais uma vez, teriamos de tomar atenção ao equipamento não permitindo que peças soltas ou mal arrumadas fiquem presas nas enormes espinheiras submersas, que têm capacidade para furar ou rasgar um fato com a maior das facilidades.
De resto, equipados com máquinas fotográficas, era relaxar e aproveitar a imersão.














































Depois de equipar, o primeiro impacto sentido é a temperatura da água. Mesmo com boa protecção no interior dos fatos secos, os gelados 10º C sentem-se bem, principalmente nas mãos e rosto.
Sabemos que a duração de um mergulho nestas condições estará sempre dependente da capacidade de resistência ao frio.
A água está repleta de milhões de larvas de mosquito, que vivem em toda a coluna de agua, em maior numero junto á superfície.





















Nos ramos das espinheiras veêm-se agarrados ovos de espécies anfíbias ou aquáticas que aqui encontram as condições ideais para reprodução.
Pelo caminho, encontramos dois poços que são usados quando a área se encontra seca, fomos atracção turística para um grupo de passeios em kayak e encontrámos um dos locais de afloramento abundante de água pelo solo, já que as bolhas libertadas em grande quantidade mais pareciam um jacuzzi.














Em comparação com 2006, foram visíveis menos quantidade dos "lindos" tritões. Os poucos que consegui ver, para além de terem um tamanho considerável, estavam mais interessados em reproduzirem-se do que em posar para as fotos.
Talvez pela altura ser de reprodução, o estágio evolutivo após eclusão dos ovos e que em 2006 se escondia rapidamente no
meio da erva não foi avistada.





















Mergulhar neste lago com 2,5 Km de extensão e 1 km de largura, quando completamente cheio, oferece inúmeros motivos de interesse. É um local original e único, aproveitado quer á superficie, como para efectuar mergulhos diferentes de tudo o que podemos esperar, surpreendendo bastante.
A profundidade em que mergulhámos nunca ultrapassou os 2,5 metros, havendo alguns locais no centro do lago que podem atingir os 6 metros.

"Godzilla", o Tritão















Estavamos na água á mais de 1hora. O frio já se fazia sentir, trespassando as camadas de protecção térmica até se entranhar nos ossos.
O maior problema são as mãos. Para permitir utilizar os botões das várias funções das máquinas fotográficas, a opção é utilizar luvas normais de neoprene de poucos milimetros de espessura, que não oferecem qualquer protecção térmica. Ao fim de uma hora de mergulho os dedos estão insensíveis dificultando acções tais como abrir mosquetões, carregar nas valvulas dos fatos e dos BCDs.













É uma questão de tempo até a hipotermia instalada nas mãos estender-se ao restante corpo.
Estavamos já na viagem de regresso para o ponto de partida, quando nos deparamos com um grande Tritão, na sua atitude inerte quase na superfície, aproveitando o pouco calor solar para se aquecer.
Era o terceiro ou quarto espécie que encontravamos e o primeiro sem possibilidade de fugir e esconder-se entre pedras ou na vegetação densa.















A oportunidade de tirar umas fotos a tão "belo" modelo seria aproveitada nos dez minutos seguintes, já que a colaboração de um modelo tão "profissional" não se pode desperdiçar…
No final do mergulho resolvemos "baptizar" o nosso mais recente amigo. "Godzilla", devido ao seu tamanho…já que é garantido que são completamente inofensivos.
Estavamos de regresso ao ponto de partida, 1h20 minutos depois de entrarmos nesta agua gelada.














O "debreefing" foi passado a trocar impressões com um grupo de turistas de kayak, sobre novos locais e ideias para futuras imersões.
Claro está que, aproveitando serem conhecedores da região, as ideias de um belo lugar onde repor "as energias perdidas e o calor corporal" foram também motivo para conversa.
Juntámo-nos assim a um grupo de fotografos consagrados ( Luis Sarmento, Rui Palma, Nuno Perez, António Raio e Carlos Ramos ) que tinham entretanto chegado e feito os seus mergulhos e dirigimo-nos para um restaurante local. A conversa, como não poderia deixar de ser, teve o "Mar de Minde" como destaque principal.

15 comentários:

Carlos Carvalho disse...

Excelentes fotos e descrição...

Por acaso não tens as coordenadas GPS desse local de entrada? E já agora, o local onde repuseram energias, qual foi?

diario de mergulho disse...

Olá Carlos
As coordenadas não tenho, mas encontrar o local é muito facil :
Quando entras em Minde, tens uma avenida que desce até uma rotunda. Para a direita vais para as grutas de Mira D'aire, em frente tens uns edificios e não podes seguir.
Viras á tua esquerda e segues sempre em frente. Quando acaba o casario, tens o "Mar" do teu lado direito. Segues cerca de 50 - 60 metros assim que acabam as casas e encontras uma berma larga em terra, junto a um cruzamento á esquerda que sobe, onde estacionas o carro completamente fora da estrada. Nesse local tens uma descida em terra ( que vês na 1ª foto do post ) onde tens espaço para equipar e entrar na agua sem qualquer problema.
Depois é só escolher…em frente, atravessas um enorme prado quase sem vida até encontrares uma antiga pedreira ( foi onde o Rui Palma andou a fotografar ).
Á esquerda tens uns muros e arvores onde andei em 2006 e onde avistei mais vida. Á direita tens a tal "floresta" que menciono e os poços. Mesmo com menor quantidade de vida achei mais interessante este local.

Para almoçar, fomos a uma tasca na saida de Minde, do lado direito…não me recordo do nome…muito barato, bem confecionado, mas não esperes serviço rápido.

Grande abraço
Pedro Tomás

Carlos Carvalho disse...

Muito obrigado

Como me parece que para a semana o mar não irá estar aceitável, uma ida a Minde poderá a alternativa.

Um abraço
Carlos

ReidoLixo disse...

Parabéns pelo blog, muito interessante!

Sou recém OWD e tenho me deliciado a ler o seu blog.


Cumprimentos

diario de mergulho disse...

Rei do Lixo

Obrigado !!

Espero que "sua alteza" ajude a que o tal lixo desapareça de vez dos nossos mares...

Bons mergulhos !!

Gonças disse...

Boa Noite
Antes de mais os meus parabens pelo vosso blog, muito bom.
Voces dizem o "mar de Minde", mas na realidade o nome mais apropriado sera a Mata... alias é o nome que tanto as pessoas de Minde como de Mira de Aire chamam a este local.
Sou um habitante de Minde, e gostei muito das imagens e desta "reportagem" sobre a nossa Mata de Minde, mais um vez um muito obrigao.
E VIVA MINDE
Se precisarem de algum tipo de informação e se eu poder ajudar, é com todo o prazer e gosto que ajudo.
Abraço

diario de mergulho disse...

Caro Gonças

Obrigado !

Quando andei a procurar informações sobre o local encontrei várias referencias á "Mata", como é conhecido pelos habitantes locais.
Para mim e para muitos mergulhadores talvez faça mais sentido designar por "Mar", já que o interesse é mergulhar num local muito original. Penso que essa designação também não esteja errada de todo.
Independente de como é referido, acho importante o orgulho que as pessoas da região com quem falei se referem ao local, o grande interesse e vontade em preservar e divulgar toda a belissima região.
Viva Minde e que a "Mata" seja inundada todos os anos e se torne "Mar" !!
Agradeço a disponibilidade em fornecer informações.
Uma grande dificuldade para quem, como eu, está relativamente longe, é saber quando a agua atinge a cota mais alta, ou pelo menos como estava este fim de semana.
Vamos mantendo o contacto.

Grande Abraço
Pedro Tomás

Unknown disse...

Como Mindrico de Gema, obrigado pelas fotos, pela reportagem.
O Mundo é cheio de surpresas!!! Aqui está uma delas. A porta da nossa casa existe um Mundo que pouca gente conhece, e tu tiveste o prazer e o saber de revelar. Por isso, Parabens! pela coragem de ser diferente! P.S. Cheguei à tua reportagem através do Facebook, pagina Minde - Ninhou.

MAR AZUL disse...

Olá Pedro, 2ª tentativa para deixar aqui um comentário. na 1ª vez não sei o que aconteceu.
Parabéns pelo relato e fotos de Minde.
Depois do almoço ainda fomos tentar descobrir onde era a tal gruta, mas nada.
Pode ser que a gente simpática de Minde nos dé umas dicas.
abraço
Rui Palma

diario de mergulho disse...

Caro João
Obrigado ! Fico contente pelo interesse demonstrado por tanta gente, principalmente fora da "comunidade de mergulho".
Do ultimo mergulho, ficaram ainda algumas fotos minhas e do João Toco fora deste post.
Assim tenha algum tempo, vou publicar e informo aqui.
Ficou também de fora o filme feito pelo João Toco do "jacuzzi" que refiro no texto. Vou também disponibilizar para todos os interessados.

Rui Palma
A Gruta que nos foi referida é a conhecida Gruta da Pena.
É conhecida por Gruta do Poio ou da Pena ( se estiver errado, por favor corrijam-me )

http://minde.eu/btt/anexos/PP_guiao_RBM2009.pdf

Descobri um link com fotos de pessoal de Kayak na entrada da gruta:

http://picasaweb.google.com/rodlopess/PoljeDeMinde16012010#

Sei que o pessoal do Espeleo-mergulho mergulha regularmente lá e há já alguns trabalhos publicados sobre esse local.

Pelo que sei, podes mergulhar no poço de entrada, com algumas condições. A partir daí e para as galerias submersas, só pessoal experiente e com formação especifica, como é lógico.

Grande Abraço
Pedro Tomás

Calos disse...

Olá pessoal

Também sou de Minde e fiquei completamente surpreendida com a vossa descrição da nossa mata. Realmente é surpreendente virem forasteiros conhecer e dár-nos a conhecer lugares onde passamos no nosso dia-a-dia. Já agora uma curiosidade: "aquele Godzilla" mede quanto? E que raio de espécie é aquilo?! É que com bicharocos daqueles aqui tão perto não sei se vou voltar a dormir descançada.

1 Abraço e voltem sempre.
Catarina

diario de mergulho disse...

Olá Kate Mosh

O "Godzilla" é um "fofo"...
Completamente inofensivo, garantido !

Da ponta da cabeça até ao final da cauda deveria ter 25 a 30 cm.
Foi o maior que vimos.

Andei a pesquisar para tentar saber qual a especie e, sem ter a certeza, talvez se trate de uma Salamandra-de-costelas-salientes ou Salamandra-dos-poços(Pleurodeles waltl).

Alimentam-se principalmente de larvas e insectos, mas não é muito esquisita com a alimentação,podendo alimentar-se de outros anfibios e de carne de pequenos animais.
O nome vêm da capacidade de projectar as costelas para ter um aspecto mais ameaçador ( da proxima vez, tenho de ver isso...)

Se for mesmo esta especie, os habitantes de Minde têm mais um motivo de orgulho na sua Mata : Trata-se do maior anfibio caudado da Europa !!

Gostaria que alguém com conhecimentos sobre o tema confirmasse e desse mais informações sobre o "Godzilla".
Obrigado

Pedro Tomás

diario de mergulho disse...

Em relação á gruta do Poio ou da Pena, o comentário do Miguel Lopes, que devido a problema técnico, solicitou-me a sua publicação.

Obrigado Miguel

"olá Pedrinho,
artigo mt fixe, como sempre! e as fotos a condizer.
quanto à gruta...tanto quanto eu sei o Poio é de facto a Pena, a menos
que haja outra a que chamam Poio.
é uma gruta que durante o período de verão fica na sua maioria a seco
(alguns sifões) mas que durante a época das chuvas é por vezes mergulhavel.
não obstante o bom aspecto :) do seu poço inicial, não deixa de ser uma
gruta e por isso mesmo apenas destinada a ser mergulhada por quem tem
formação para tal.
Rui Palma se estiveres interessado em conhecer a cavidade terei todo o
prazer em te indicar o local.
bjs e abrs

Miguel Lopes"

Unknown disse...

Olá,
Também sou minderica e fiquei deliciada com as lindas fotos tiradas no polje de Minde. Adorava ter a oportunidade de mergulhar com alguém experiente no assunto. É possível acompanhar-vos na próxima aventura no polge?
Muitos parabéns

diario de mergulho disse...

Olá Marta

Obrigado !

O polje de Minde pode ser visitado de várias formas...

Se referes uma visita subaquatica, primeiro que tudo tens de ter formação em mergulho autonomo. Se pesquisares na net de certeza que encontras uma escola com bons instrutores onde podes iniciar a tua formação.
Outra alternativa é fazeres uma visita em snorkel que consiste numa mascara com um tubo por onde podes respirar, mantendo a cara debaixo de agua e apreciar as vistas. É recomendavel formação, mas podes experimentar com alguem que tenha alguma experiencia e evoluir a partir daí.
O polje de Minde só está cheio no Inverno, o que significa que a agua está fria...muito fria !!
É indespensavel um fato de neoprene com uma espessura superior a 6 mm, luvas, botas de neoprene e barbatanas. Mesmo assim, devido á temperatura da agua não deverás estar na agua mais que 1 hora ou antes de começares a ter sintomas de hipotermia.

Bons mergulhos !!